sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ENSAIO SOBRE AS CONSTRUCÇÕES NAVAES INDIGENAS DO BRASIL

 "De tudo quanto ha produzido o engenho do homem, nada se compara em grandeza de concepção e de execução com o navio, e por isso é a Construcção Naval com justa razão considerada uma de suas obras mais admiráveis e úteis por qualquer face, que se encare o navio, grande ou pequeno, primitivo ou da actualidade, em relação ás suas épocas."
(Almirante Antonio Alves Camara)

Neste mes de outubro fazem exatamente vinte e dois anos que ganhei de minha querida irmã Silvia, sabedora que ela é de minha paixão por embarcações e tudo o relativo ao mar e marinharia,  duas reliquias. Um é o Dicionário Ilustrado de Marinharia do Capitão-Tenente Antonio Marques Esparteiro (2ª edição 1943) da Livraria Classica Editora (de Lisboa). Este dicionário nos remete ao tempo em que não havia muito anglicismo no vocabulário náutico da lingua portuguesa a qual possuia um léxico muito típico, rico e tão vigoroso como os marinheiros que o empregavam.

O outro livro é "Ensaio sobre as Construcções Navaes Indígenas do Brasil", do Almirante Antonio Alves Camara, editado pela Bibliotheca Pedagógica Brasileira - Brasiliana. Uma 2ª edição de 1937, do qual é oriunda as palavras no início deste post. É um livro fantástico e talvez único que faz um profundo estudo das nossas embarcações, que resultou a sua primeira edição em 1888 (!!!). Riquissimo em detalhes e muito interessante, sobretudo do ponto de vista histórico das embarcações no Brasil, assim como, sobre as técnicas e materiais utilizados para construir-las e manejá-las de acordo com as características de vento e corrente de cada região. Também descreve a forma de vida dos habitantes ribeirinhos do litoral e do interior do Brasil, acrescentando trechos de viajantes e de moradores locais, o que vem a enriquecer notávelmente a obra. Segue alguns trechos do livro que achei interessante do capitulo dedicado as jangadas:

"...Sendo o único meio de transporte, como já dissemos, nesse ponto, muito concorreram os jangadeiros para apressar a libertação de escravos nessa provincia, não se prestando absolutamente ao embarque delles, procedimento este, que mereceu os louvores de todos os Brazileiros, e tornou legendaria essa embarcação no Ceará.
Uma dellas, a que iniciou o movimento abolicionista, denominada jangada Libertadora, foi trazida ao Rio de Janeiro no paquete Espirito Santo acompanhada pelos jangadeiros Francisco José do Nascimento, Francisco José de Alcântara e José Félix Pereira Barbosa, onde muito se festejou nos dias 23, 24, 25 e 30 de Março de 1884, e por fim foi guardada no Museu Nacional como uma reliquia histórica e preciosa.

 
O histórico das tentativas para introducção d'esse typo de embarcação na provincia do Maranhão consta da seguinte curiosa nota extrahida do Diccionario histórico geographico d'aquella provincia por César Marques:


« Jangada. — Muito tempo ha, que se procura introduzir a jangada no serviço maritimo d 'esta provincia.
« Em 8 de Fevereiro de 1826 o coronel António de Salles Nunes Belfort, como presidente do Ceará, officiando ao presidente do Maranhão Pedro José da Costa Barros lhe disse "que em virtude do seu officio nº 6 lhe enviava oito jangadeiros, sendo três mestres e cinco marinheiros, os quaes náo tinham jangadas, e as poucas, que existiam, eram caras, e por isso náo as mandava, e por estar persuadido de haver n'esta província madeira própria para construcção d'ellas. "Não sabemos qual foi o resultado d' esta remessa.



Em minhas incursões pela internet, descobri digitalizada esta obra de grande valor histórico. Ela não pode deixar de ser vista, principalmente pelos amantes das embarcações primitivas brasileiras, acessando o link abaixo:

http://www.brasiliana.com.br/obras/ensaio-sobre-as-construcoes-navais-indigenas-do-brasil