segunda-feira, 30 de junho de 2014

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Barco ideal... para que?

Relendo um artigo de Gérard Janichon na revista Vela e Motor de 1983, em que ele faz reflexões sobre o barco ideal para seus cruzeiros, veio novamente a minha cabeça o velho tema sobre o barco ideal.
Ideal para que? Seria esta a pergunta lógica a ser feita, pois a resposta a ela abre um leque de opções com relação ao uso da embarcação.
Em se tratando de barcos de pequeno porte, o que por sua vez não é determinante com relação a sua capacidade de navegação, as opções são muitas, por isso vou discorrer sobre os pequenos catamarãs polinésios de James Wharram, já que este blog está dirigido a este tipo de veleiros.

Algumas pessoas pensam em ter um catamaram de praia para ser utilizado no verão em passeios curtos com uma ou duas pessoas a bordo durante o dia em aguas abrigadas. Confesso que tenho uma atração por esse tipo de embarcação pela sensação de liberdade que um barco leve, facilmente rebocável ou, se for de diminutas dimensões, poder ser levado na capota do carro, dispensando o uso de carreta rodoviária. Este início seria com um catamarã de 14 pés, no caso o Hitia 14. As diferenças entre o Hitia e um Hobie cat 14 , a começar pela diferente proposta de uso, são muitas.


O Hitia 14, é mais lento em comparação ao Hobie 14, contudo, não se pode dizer que seja uma embarcação lenta, ela é rápida, mas por outro lado mais segura. 


Manejável tanto na água como no seco, esse tipo de barco faz com que aproveitemos mais o tempo em velejar, uma vez que é um barco fácil e rápido de ser montado e em pouco tempo o teremos disponível para o velejo. Contudo, essa embarcação tem suas limitações quando dá vontade de ir um pouco mais além da praia de destino, não só pelo conforto, mas sobretudo pela segurança e os riscos que possa oferecer.
Em se tratando dos Wharram cats, outra opção, com possibilidades de navegação bem maior e mais segura seria o Hitia 17, já comentado neste blog.



É sabido que alguns aventureiros, com bastante experiência fizeram trajetos longos em etapas por mar aberto com os Hobie cats 16, mas, usualmente não é o tipo de façanha que estejam buscando a maioria de usuários dessas embarcações. Deixando de lado as tentativas de record, ou desafios pessoais com pequenos catamarãs, seria o Hitia 17 mais bem adaptado a essas façanhas pela maior segurança que oferece em relação a um Hobie cat 16, mesmo porque a proposta de ambos são diferentes quanto ao estilo de navegação e comportamento, já que no Hitia 17 o “fly hull” não foi contemplado quando foi concebido o seu projeto, justamente para dar maior segurança a seus tripulantes, com isso, a possibilidade do barco capotar fica reduzido ao mínimo, para não dizer que ele não capota. 


Seria preciso muitíssimo vento e mar, aliado a uma sobredose de insensatez ou total falta de experiência para que um hitia 17 venha a capotar. Já, para um hobie cat 16, com vento e mar não tão severos, basta um pequeno descuido e a virada do barco é inevitável, mesmo para pessoas com mais experiência que na busca de uma melhor performance, acabam por ultrapassar os limites do barco, portanto, para utilizá-lo em aventuras desse tipo, o Hobie cat tem que ser navegado abaixo das suas prestações e com muito cuidado. Em um Hobie cat 16, e sobretudo num 14, com muito vento e mar mexido, a navegada pode vir a ser muito tensa e cansativa, ademais da possibilidade de poder sofrer avarias.


Quando penso num veleiro, penso em sensações e qualquer que seja seu tamanho, a primeira sensação é a de liberdade, as possibilidades de acesso a praias paradisíacas, ou mesmo poder apreciar a paisagem a sua volta . Em segundo, vem a mente a sensação de velejá-lo, sentir a força do vento e do mar agindo sobre embarcação, e seu comportamento. Na sequência lógica desses pensamentos, me vem a sensação de segurança efetiva que o barco possa transmitir.
Como já comentei anteriormente com relação as lacunas existentes entre os Tikis 21 e 26  e desse para o Tiki 30, há também outra entre o Hitia 17 e o Tiki 21, claro que a proposta de ambos são bem diferentes. Pensei que um Hitia 17 poderia oferecer mais possibilidades, explorando suas caracteristicas de barco de praia, mas otimizando as suas boas caracteristicas marinheiras para fazer dele um bom micro cruiser, ampliando um pouco seus cascos para dotá-lo de duas micro cabines em que se possa estender o corpo no seu interior e assim poder descansar enquanto um outro tripulante governa a embarcação. Isso possibilita fazer trajetos mais longos com aquele conforto mínimo necessário para o descanso entre os turnos de leme e que o projeto original não contempla, mas mantendo o barco com suas dimensões e peso reduzidos. Consequentemente seu custo seria significativamente menor que um Tiki 21 por ser mais compacto que ele em volume.
Fiz um esboço inspirado no Hitia 17 para fazer pequenos cruzeiros. Para que pudesse contar com uma pequena cabine, a borda livre teve de ser aumentada, assim como seu comprimento, que devido aos lançamentos de proa e popa, deixou o barco com 18,5 pés. Logo mais postarei este esboço que ainda está sendo trabalhado.
O casco seria feito com compensado de 6mm e com um volume que garante uma borda livre maior, o que permitiria velejar sentado dentro do casco com parte do corpo para fora.
Em linhas gerais este catamarã continuaria sendo um barco de praia pelas suas dimensões, mas com muito mais capacidade de navegação, ampliando suas possibilidades de uso, sem perder as qualidades inerentes aos catamarãn polinésios de JW, mantendo todas as geniais soluções por ele desenvolvida, e claro, a vela seria uma simples, genuína e efetiva wingsail.



quarta-feira, 4 de junho de 2014

Barcos de Compensado Naval, Fibra e Epoxy

Esta semana, outra discussão me fez com que, mais uma vez, me veja na obrigação de esclarecer sobre o tema dos barcos fabricados em composite de compensado naval/ fibra/epoxy no sentido de defender sua utilização na construção artesanal, seja ela amadora ou profissional.

Não sei porque os jargões influenciam tanto as pessoas desinformadas, fazendo com que estas não se informem sobre as vantagens e desvantagens do material de que querem para que seja feita sua embarcação. Ainda hoje o mantra “fibra é fibra” está amalgamado na cabeça de algumas pessoas de tal forma que ela nem sabe o que seja a osmose além do que apenas seu nome. Já para quem teve embarcações de fibra e a osmose se fez presente, este sim sabe bem o que é, sobretudo se descuidou de fazer a reparação no seu devido tempo. A vantagem dos barcos de fibra de vidro e resina poliéster é maior para o estaleiro que produz barcos em escala industrial do que qualquer outro material, não resta dúvida! A revolução causada na industria náutica da década de 1960 foi marcante pela introdução do poliéster e fibra de vidro, aumentando significativamente a produção e barateando os custos da mesma. Mas com o passar dos anos, o que se pensava sobre os barcos de “plástico” de que fossem eternos, mudou de rumo ao se saber que na prática, com o tempo, que a molécula da resina poliester é permeável a água. Muita dor de cabeça deu a seus proprietários quando se notava as famigeradas bolhas abaixo do gelcoat. Hoje, apesar da tecnologia aplicada a esse polímero revolucionário, seu uso nas cadeias de produção dos estaleiros de barcos de recreio no mundo, com a invenção de resinas poliéster isoftálicas e outras, conseguiu-se adiar o problema da osmose, mas não resolvê-lo de vez.
O mito da resina poliester foi tão grande a ponto de que muitos desavisados proprietários de barcos de madeira, revestiram suas embarcações com esta resina sobre um tecido de fibra de vidro. Ademais da resina poliester ser permeável a água, ela sobre a madeira, se descola rapidamente com o tempo, fazendo com que entre a laminação e a madeira criem-se bolsas de água, acelerando o processo de decomposição do casco. No caso de osmose em cascos de fibra de vidro, a água que se acumula entre as fibras do laminado se decompõe e migram por capilaridade a outros pontos do casco.

Assim como na indústria náutica a resina poliester veio causar uma revolução, ecoando através da mídia as vantagens de seu uso para a produção em larga escala, a resina epoxy veio a fazer o mesmo na construção artesanal em barcos de madeira, só que, a propagação de suas qualidades, muitíssimo superior a resina poliester, foi menos alardeada. O custo da resina epoxy é bem maior que a de poliester, por isso não são usadas em estaleiros de alta produção, por outro lado, a produção artesanal de barcos de madeira em suas mais variadas técnicas construtivas ganhou em qualidade anos luz em relação ao que se utilizava antes de sua descoberta. A resina epoxy, ademais, é completamente imune a água, garantindo assim uma vida muito longa às embarcações de madeira, de tal modo que se a manutenção periódica dispensada a qualquer barco construido com ela não for negligenciada, se pode dizer que seja indefinida.
Conheci barcos feitos de compensado naval e epoxy, e bem mantidos, com mais de trinta anos, sem que estivesse sido afetado pela umidade.

Tiki 21 bem mantido construído no inicio da década de 1980

Agora, a durabilidade de um barco, seja ele da madeira ou de fibra,  passa pela sua esmerada construção e pela sua manutenção, assim como a observação sempre minuciosa do casco para detectar pontos de desgaste da pintura, providenciando de imediato seu recobrimento.
Sempre tive em meus barcos um pouco de resina e de tinta para fazer o recobrimento no ato de alguma imperfeição, seja de um descascado, trincas ou arranhões que viessem a comprometer o isolamento da fibra ou da madeira.


Sempre recomendei aos que tem catamarã ou monocascos de quilha retrátil, sejam de fibra ou madeira, e que fiquem direto na água em poita ou pier, que quando se aproximarem de uma praia, ao menor roce com a areia do fundo, parem a embarcação e voltem um pouquinho, evitando sempre o roce do casco com a areia, mesmo que se tenha um perfil metálico sob a quilha. Deixando uma lâmina de áqua entre o fundo do casco e a areia, prolonga-se muitíssimo ter que fazer uma reparação que envolva ter que usar fibra e epoxy quando tiver que fazer a pintura periódica do fundo.