terça-feira, 18 de janeiro de 2011

TIKI 26 OU TIKI 30 ?

As vantagens dos catamarans Wharram como sendo a embarcação mais lógica para cruzeiro que podemos dispor hoje em dia , considerando os fatores de segurança, navegabilidade,  facilidade de construção e de manutenção, sendo estas duas últimas citações, abrangentes ao fator econômico, e que estão caracterizados em seus projetos pelo seu baixo custo em relação a outras disponíveis no mercado, tem por sua vez,  um peso crucial e determinante para quem deseja uma a embarcação capaz para cruzeiros longos e dispõe de  recursos limitados.

Àqueles que já se decantaram pelos projetos dos pequenos catamarans de James Wharram por se identificarem com os fatores acima mencionados e até por outras razões de caráter subjetivo, podem ainda ter dúvidas com relação a qual dos dois Tikis seria a embarcação ideal para seu novo modus vivendi.

Num cruzerio de envergadura, em que se tem que passar muito tempo a bordo, as vezes por meses, um barco maior sempre será melhor, pelo conforto inerente ao que o maior espaço oferece. Mas isto tem um limite para cada pessoa, para cada caso e... para cada bolso! Geralmente o fator que determina o tamanho do barco é o econômico. Também, é este o fator que faz com que muitos não realizem o seu sonho, pois querem levar uma vida a bordo com o conforto o mais próximo possível da vida que levam em terra, ou aparentar um staus quo que não condiz com a sua realidade financeira, e que custa muitíssimo dinheiro.

Outra coisa é avaliar se a vontade de soltar as amarras que prendem a terra é maior que a abdicação ao conforto.

QUANDO O MENOS É MAIS

A opção de viver no mar em pequenas embarcações é plenamente possível e realizável e são centenares os exemplos que podem ser vistos ou citados, e que aportam uma riquíssima experiência de vida, porém, implica em se adaptar a viver com um mínimo indispensável. Para adequar-se a esta nova opção de vida, é preciso estar muito consciente para viver por meses com este mínimo de conforto. Quem se adequar a esta nova forma de vida, estará também mais “leve” para poder assimilar tudo o de bom e do melhor que a vida no mar nos oferece. Na maioria das vezes o esforço inicial a qualquer mudança de hábitos e de comportamento, tem valido muito a pena e a experiência adquirida nos servirá ao longo de nossas vidas.

A capacidade de abdicação ao conforto varia de pessoa a pessoa e em graus bastante diversos.

Facilitaria bastante questionar o sacrifício de espaço em função das vezes e do tempo em que ele vai ser utilizado. Em uma área reduzida na parte de traz da cabine de um Tiki 26 se pode ter um WC hidraulico, que pode ficar "escondido" debaixo de um assento escamoteável. Este, quando o WC não está em uso, serve de assento para uma pequena mesa de cartas, ou timonear a embarcação confortavelmente, através de uma extensão da barra do leme, sentado dentro da cabine para se proteger da chuva ou frio. Este ambiente  pode, quando em uso o WC, ser separado do beliche por uma cortina instalada na antepara  logo a frente. Em outra configuração, esta antepara poderá ser totalmente fechada, isolando completamente o WC, porém, sacrificando a passagem para o beliche na parte da frente da cabine, que por sua vez terá que ter uma entrada propria. Esta configuração pode vir a ser interessante para quem quer usar o barco para charter, que requer um espaço  privado para o WC.
A cosinha, fica destinada ao outro casco, que tambem poderá ser fechada por uma cortina na antepara, separando-a do mesmo ambiente onde se encontra o beliche, para no momento do prepararo da comida evitar fumaça ou cheiro não desejado. Esta cosinha pode ser composta de um fogão de duas bocas com forno, no qual se pode preparar uma grande variedade de pratos, e uma prateleira integrada a uma pequena pia com agua doce, para lavar e cortar alimentos.
Para quem se adaptar a uma vida mais espartana, o Tiki 26 pode servir perfeitamente, tanto para navegantes solitários, recebendo eventuais tripulantes, ou inclusive para um casal. Apesar do Tiki 26 não proporcionar em suas cabines, a comodidade para que um casal durma lado a lado, quando em navegação, deve-se considerar que um tripulante sempre deve estar em seu turno enquanto o barco navega (mesmo com piloto automático). Quando se está no porto ou fundeado, sob a cabine de lona, se pode dormir lado a lado com bastante conforto e com acesso coberto ao WC e a cozinha em ambos bordos.


O importante no caso do Tiki 26 para cruzeiros longos é aumentar em altura as cabines, e ter uma cabine de lona de fácil montagem que garanta total proteção da chuva e do vento, com opção de poder deixar apenas a parte superior (teto) nos dias de muito sol e calor. Ainda assim, seria interessante ter uma lona mais leve que sirva apenas de teto, de montagem mais fácil ainda,  para ser usado quando for preciso nas paradas breves de um dia.

Um casal, deve levar em conta que depois de uma longa navegada com permanência de dias no mar, ao chegarem ao porto e não houver disposição para montar a cabine de lona, mesmo ela sendo de fácil  montagem, pode cada um descansar na mesma cabine em tandem ou cada um em uma cabine, contando com uma cama individual muito confortável. Acredito que se não sobrou energia para montar uma (fácil) cabine de lona, certamente não haverá energia para nada mais.
Se o problema for a chuva, os rodinhos de mão e panos secos, serão utensílios indispensáveis para se usar depois de montar a cabine. Agora, se alguém quer se fazer ao mar e achar que a chuva seja  um inconveniente que venha a afetar muito seu estado de ânimo, aconselho que a aventura de navegar seja  feita a bordo de um camêlo e fazer travessias no deserto, ou que economize muito dinheiro e compre um catamaram monobloco, com uma cabine que integre ambos os cascos, levando no pacote as desvantagens inerentes a este conceito na hora de se fazer a manutenção e transporte em seco, . Ah! e que continue economizando para quando chegar o momento improrrogável de se fazer esta manutenção!

Para um casal, um Tiki 30 pode ser um excelente barco para uma morada simples e espartana. Porém o incremento de preço em relação ao seu irmão menor é significativa e deve ser considerada se o orçamento para a nova vida for muito escasso. Com um aumento das cabines em altura, se pode gozar de um bom espaço no interior dos cascos. Devemos pensar que num Tiki 30 existe a possibilidade de se fazer uma cabine central proposta pelo proprio Wharram, cujo projeto é vendido a parte. Cabe ressaltar que esta cabine central não integra o acesso às cabines do casco. Eu pessoalmente dispensaria a cabine central no Tiki 30 para poder desfrutar de um espaço no cockpit bem maior, para quando o barco estivesse parado e com a cabine de lona cobrindo toda a área, nos protegendo do sol e da intempérie. É uma questão de gosto pessoal. À cabine central se pode acrescentar um custo mais elevado e também um peso extra bastante significativo, ademais de uma área parasita que criará um arrasto aerodinâmico, que influenciará no desempenho final da embarcação. Com relação ao peso, deve-se levar em consideração que a cabine por si só já acrescenta muito, e tendo a cabine, vai induzir a que se leve mais peso ainda aproveitando seu espaço para levar ainda mais carga. Contudo, vai da necessidade de cada um.



Supondo que um casal fazendo a volta ao mundo em quatro anos, estará navegando por seis meses, o tempo restante estará parado em algum porto. Isto é para se pensar, pois quando estiver num porto, uma cabine central fixa vai deixar um espaço bem mais reduzido no cockpit. Ao contrário, um espaço diáfano, amplo e coberto com uma boa lona em que se possa ficar de pé, armar cadeiras de praia, mesa dobrável, e deixar as cabines interligadas proporciona um nível de conforto ao meu parecer bem maior. Ficando assim o barco mais aliviado de peso, e mais importante, quando em navegação, dando mais segurança na hora de ir para a proa com mar ruim, ou trabalhar no pé do mastro quando for preciso diminuir o pano.



Para proteger-se do vento e respingos durante a travessia, um defletor parecido com um grande dog house dobrável montado na parte dianteira do cockpit resolverá o problema, sem incrementar o peso, do tipo que se vê no tiki 26 abaixo



Outra coisa importante para um casal é a hora do banho. Numa travessia com embarcações de pequeno porte o melhor seria o banho com o menor consumo  possível de água doce, portanto, a melhor maneira de tirar a maresia do corpo é passar uma toalha molhada, reservando uma garrafinha pet para lavar os “países baixos”. Nunca tomar banho com o chuveirinho de água à pressão! Por mais cuidadosos que sejamos com o consumo de água doce numa travessia, deveremos utilizar o chuveiro de água a pressão apenas depois de cruzarmos o oceano. Ademais, quando o barco estiver em alguma marina, toma-se banho em suas instalações, deixando para tomar banho no barco quando estiver fundeado em algum lugar remoto e sem infra estrutura. Estas situações de escasses de água vai fazer com que a gente se surpreenda com a nossa capacidade de tomar  banho e ficar limpo com muito pouca água, despertando assim a conciência da austeuridade e parcimônia que devemos fazer de seu uso no mundo.

O WC num Tiki 30 poderá ser instalado com mais folga na cabine, ou num  compartimento de proa separado e com acesso por uma gaiúta propria. Este espaço é pequeno, porém estando separado, deixa a cabine livre.

Com um fogão de duas bocas com forno já se tem o suficiente para cosinhar os mais variados pratos e ele pode ser instalado tanto no tiki 30 como no 26. Claro, que no 26 vai tomar um espaço maior na cabine, mas dá perfeitamente para instalá-lo.

Como eu havia comentado em meu post de julho de 2010 “Sonhar sem perder o Rumo”, ...Uma vez que tenhamos um barco marinheiro e seguro, o indispensável para cruzeiro é que ele nos dê a possibilidade de dormir com conforto, fazer uma comida quente e tenha um canto para abrigar-nos da intempérie.

Para complementar este post, vou reproduzir  trechos de um e.mail que escrevi para o meu web colega Carlos Linhares, quando me perguntava sobre a capacidade do Tiki 26:

...O peso do barco é 700 kg e o peso de carga 770kg com um total de 1,47t.

Com o que, se for fazer uma viagem longa, uma travessia por exemplo, com duas pessoas de 70kg em média, voce ainda pode levar 630 kg de carga! Já está bem, não? Já que sonhar não custa nada, calculando uns 45 dias para cruzar o Atlantico (na verdade no máximo 30 deixando 15 de reserva) e um consumo de água de 2 litros por tripulante o que dá 4 litros por dia multiplicado por 45, são 180 litros de água, ainda sobram 450 kg. Parece muito, porém, dentro destes 450 se deve descontar o peso do motor, combustível, material de fundeio, roupas (o mínimo indispensável), material de salvatagem, velas de reserva, ferramentas, etc, é... , a lista é grande mas o que já foi citado é o que representa de mais pesado, mas vamos supor que se use 250 kg, sobram ainda para levar 200 kg de alimentos, que representam uma média de consumo de 4,44kg por dia (2,22kg percapto) para que seja uma travessia gastronômica, não é mesmo? (rsrsrsrs)...
 ...Deixando as divagações de lado, dá pra ver que o barquinho é poderoso! Na verdade, que para fazer um cruzeiro costeiro ele vai mais que sobrado, pois, será difícil chegar no limite maximo de carga, a não ser que se queira perder-se por muitas semanas em alguma ilha pelo caminho ou em alguma praia isolada na costa, não é mesmo?

Isto para mim isto é o mínimo indispensável !