segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Tiki 38 do Giovani


Quando recebi a visita do Giovani por indicação do amigo Roberto Costa Sousa,  ele veio sondar para saber sobre a possibilidade dele construir sósinho um Tiki 38 (!!!). Claro foi uma longa e agradável conversa, analisando todos os pros e os contras de se fazer tão ousado projeto contando com apenas ele na construção do barco. Ele queria um barco para morar, em principio só, eu lhe recomendei que fizesse um tiki 30, aumentado para 32 pés com ampliação da altura do costado e cabine para que tivesse pé direito suficiente para as suas necessidades. Penso que ele saiu de casa um pouco desapontado ou com a expectativa de um compromisso  bem maior em relação ao desafio que ele havia proposto para si.

Não é a primeira vez que me pedem orientação sobre o tema de construção dos Tikis, para que tenham uma melhor noção sobre tal ou qual modelo de catamarã polinésio seria o mais adequado. É uma pergunta difícil de responder pois os desejos de cada um e seus propósitos são diversos e muitas vezes, diferentes dos meus, alguns por não terem nenhuma noção do que seja construir uma embarcação.
Primeiro tento decifrar o perfil da pessoa, o que quer e o que espera do barco que tem em mente construir, que habilidades tem, e embora eu tenha de primeira mão esses dados, o que mais procuro fazer saber a quem deseja construir seu próprio barco é quantidade de trabalho que dá construir qualquer barco, para que quando tiver escolhido o modelo, que sua construção chegue a termo e não fique pela metade porque superestimou sua capacidade de trabalho e a disponibilidade de tempo e dinheiro para sua conclusão.  Este é o ponto em que mais procuro deixar claro para aqueles que me pedem uma orientação. Não há coisa mais frustante que ter que interromper a construção de um sonho por um erro de avaliação desses quesitos e depois amargar uma frustração pessoal porque o sonho se tornou pesadelo.
Pois bem,  no caso do Giovani, o erro de avaliação foi meu! Sim, depois de seguir o conselho do amigo Roberto, ele construiu o menor dos catamarãs do Wharram, o Hitia 14 para poder avaliar suas habilidades antes de se meter em tão ambicioso projeto.
Então, de suas mão habilidosas surgiu o Hitia 14 Penélope, que  lhe dá muitas alegrias. Já, o seu Tiki 38 é uma realidade tão palpável que se pode adentrar  ou andar sobre seus conveses e travessas! Ele criou um blog para quem quiser acompanhar a sua construção http://veleiroaventuras.com.br/

Hitia 14 Penélope

O Giovani é uma pessoa muito bem centrada no que quer, muito obstinado e com muita força de vontade, tendo tudo muito bem calculado e com muita, mas muita disposição para o trabalho.
Ele está construindo seu Tiki 38 em Camboriú (SC) a uns 80 km daqui de Floripa, e embora nos comunicássemos por telefone uma vez ou outra, pelas exigências de meu trabalho e atenção a família, só pude fazer-lhe a primeira visita depois de que os dois cascos estivessem prontos.
Foi uma surpresa impactante ver o resultado de seu trabalho duro durante esses anos, apesar de haver visto em fotos, ao ver in loquo  foi realmente impressionante. Só quem já construiu um barco pode avaliar o trabalho que o Giovani teve para ter feito o que fez. E não parou, ainda tem muita coisa para ser construída, muitos detalhes para serem resolvidos até que o barco esteja pronto, se bem que o "grosso" do trabalho já esteja pronto e isso talvez seja a injeção de ânimo que o faz seguir em frente com seu projeto. O barco está lindo e exuberante, como disse anteriormente, "uma nave", como se pode ver nas fotos abaixo.


























segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Casco de Bombordo quase pronto

Casco de bombordo do catamarã acaba de receber pintura externa e interna. Faltando agora fazer as tampas de gaiuta e compartimento de carga e instalar as vigias de policarbonato que já se encontram cortadas. Quase com o casco pronto...









terça-feira, 7 de março de 2017

Mais outra volta a Ilha de Santa Catarina

Depois de haver feito essa volta no inicio do ano com o Tiki 21 Mouna do Rodolfo Petersen, o amigo e velejador Marcelo me convidou para tripular seu Brasilia 23 desde Canasvieiras, no Norte da Ilha, contornando por mar aberto até o Ribeirão da Ilha na parte abrigada da baía sul. O convite foi aceito na hora, mesmo sabendo que seu barco não tinha motor e com previsão de ventos do quadrante sul fraco moderados durante todo a travessia. Diferente da volta anterior, com o Mouna, em que o vento nordeste bombou de forma muito vigorosa chegando em alguns momentos a mais de 30 nós nas rajadas.

Saímos no inicio da manhã de Canasvieiras com um vento bem fraco em direção ao mar aberto onde o vento diminuiu mais ainda quando atingimos a altura da praia da Lagoinha. Fotos feitas pelo Marcelo.



Sol escaldante e barco se movendo preguiçosamente numa aragem débil. Claro, o visual é muito bonito e compensa a falta do vento que entrou lá pelo meio dia. Esta foi a tônica marcada por Eolo durante todo o trajeto e que passou fatura mais tarde frustrando nosso objetivo de ancorar na Ilha do Campeche ainda no final do dia, fazendo com que nos víssemos parado ou nos arrastando a 1,5 nós por horas a fio, como se a natureza, caprichosa,  nos pusesse a prova a nossa paciência. Mas a jornada a bordo foi bastante legal devido ao bom entrosamento entre o comandante Marcelo e eu. Quando o vento entrava, este vinha com boa intensidade fazendo o veleiro ganhar vida e a seus tripulantes, alento. Assim, nessa toada fomos indo até a noite chegar.


Muitos barcos pesqueiros passaram por nós durante o dia e a noite



A noite foi chegando e ainda faltava umas 5 milhas para estar na altura da Ilha do Xavier quando o vento diminuiu mais ainda. Orçávamos quando não estávamos quase parados a uns 2 nós e calculamos que estaríamos no través da ilha do Xavier em duas horas e meia. Mas o vento chegou a parar quase que totalmente por muito tempo, só voltando a soprar de forma fraca quando a noite de lua nova se fez totalmente escura, possibilitando um tímido avanço a 3 nós. Aproveitamos as lufadas para alcançar a ilha do Xavier com idéia de jogar ferro em sua proximidade para nos abrigar do banzeiro de sueste e descansar.
Contudo, quando avaliávamos a possibilidade de jogar o ferro, a silhueta lúgubre de suas encostas de pedras escarpadas próximas nos fez mudar de idéia rapidinho, mesmo nos vendo em aguas calmas. A prudência nos avisava que se houvesse alguma mudança local do vento devido a uma possível chuva de verão poderia nos deixar em apuros desnecessários. Saímos do entorno da Ilha do Xavier enquanto havia vento para isso, com rumo a Ilha do Campeche. Quando o braço aproou no rumo desejado eu fui descansar um pouco, pois sabíamos que a noite ia ser muito longa devido a pouca intensidade do vento que, a noite, fazia parecer que o barco estivesse parado. Depois de quase uma hora e meia de descanso fui render o Marcelo no leme. Quando saí para fora, olhei para a silhueta da Ilha do Campeche, foi desalentador, parecia que pouquíssimo, ou nada havíamos avançado. O Marcelo me contou que o vento parara de vez por muito tempo e que naquele momento havia uma pequena brisa. Assumi o leme e o Marcelo foi descansar na cabine. O vento parou de vez e o barco ficou a matroca com a proa variando de direção, chegando a apontar para o lado oposto ao que queríamos. Não sei quanto tempo passou, mas aproveitei o momento para observar as luzes dos bairros ao longe. Estavamos bastante distante da costa da Ilha e ouvia o vuco vuco surdo da festa de carnaval que se mesclava com o ruído de motores de barcos atuneiros, o que me causava certo desconforto por não poder manobrar o veleiro caso algum deles estivesse em rota de colizão. A noite sem Lua e céu aberto permitia ver o esplendor do firmamento. Estar naquele momento naquele lugar foi muito bom para poder admirar e reflexionar sobre a vida. De repente o vento SE entrou novamente, desta vez de forma franca, o que me tirou da absorção de meus pensamentos e me possibilitou retomar o rumo a distante ilha do Campeche. Foi uma velejada maravilhosa, ainda mais depois de tanto tempo de ventos muito fracos intercalado com calmarias que pareciam não ter fim. Quando estava bem próximo da ilha do Campeche acordei o Marcelo que estava mais descansado para fazer a aproximação enquanto eu dava um cochilo de 20 minutos antes de jogarmos ferro na ilha as 3 horas da manhã, diante de sua paradisíaca praia e dormir profundamente.






Fui acordado pelo Marcelo de manhã que já havia dado um mergulho para se recompor e subimos a ancora e os panos para aproveitar o vento que estava soprando com alegria. Não podíamos perder tempo, pois agora nos tocava botar o barco em direção ao canal de entrada da baia sul, na ponta de Naufragados, local que nos causava expectativa pois estávamos sem motor e não podíamos ficar sem vento e ao sabor das correntes num lugar que requer muita atenção pelo perigo que oferece.


Marcelo e eu aproveitando o bom vento. Ilha e praia do Campeche ao fundo

Ilha das Aranhas


Praia do Campeche

Ilha do Campeche sendo deixado pela popa


 Entrada do canal da Barra da Lagoa. A esquerda da foto praia do Moçambique


 Praia da Lagoinha do Leste

Rumo Sul
 Antecedendo a entrada do Canal de Naufragados

 Começando a entrar no canal de Naufragados

Extremo sul da Ilha de Santa Catarina e a praia de naufragados ao fundo

Quando rumávamos para o sul em direção a canal dos Naufragados o vento rodou e se firmou de NE com boa intensidade, e imaginamos que se manteria assim depois de passado pelo canal, quando deveríamos rumar para o norte e que então teríamos que orçar da entrada da baía sul até Caiacanga onde o barco iria ficar apoitado. Mas, novamente o vento parou completamente quando entramos na baia sul e ficou horas em calmaria total. A agua parecia ser de uma piscina e avançávamos muito lentamente apenas ao sabor da maré enchente. Até que próximo da ponta de Caiacanga entrou um vento NE forte, fazendo o barco adernar e tendo que rizarmos a grande. Assim, conseguimos chegar até próximo de terra para descarregar o barco. Depois fomos até a casa do Marcelo levar as coisas e voltamos de moto  até onde estava o barco. O Marcelo iria levar o barco até a poita no extremo norte da baia de Caiacanga e eu o pegaria com sua moto para regressar a sua casa.
Havia um vento de NE fraco quando o Marcelo saiu, mas, minutos depois ele ficou tão fraco que o barco mal se arrastava pela superfície da água. Depois de muito tempo ele havia avançado muito pouco até que o vento parou de vez. O barco então derivava e com a força da corrente de maré  se enroscou nas boias de uma marisqueira. Eu em terra e sem poder me comunicar com o Marcelo, me parecia que o barco havia encalhado com a quilha tocando no fundo. Depois de algum tempo constatando que dali o barco não sairia, voltei a marina antes que ela fechasse (era final de tarde) e pedi ajuda para resgatar o Marcelo daquela situação, ao qual eu fui prontamente atendido. Com auxilio de uma lancha retiramos o barco de onde estava e o rebocamos até sua poita um pouco mais adiante. Foi a melhor forma, diante daquela situação, de terminarmos nosso périplo. De volta a marina, pegamos a moto e voltamos para casa para tomar uma cerveja gelada e um merecido banho. O plano era para o Marcelo me levar de moto até o norte da Ilha de onde saímos para que eu pudesse pegar minha moto que havia ficado lá e voltar para minha casa, mas, devido a hora, iria chegar muito tarde para pegar a marina onde deixei a moto aberta, então o Marcelo me levou para casa e peguei minha moto no dia seguinte, indo para Ponta das Canas de ônibus. Assim termina o nosso périplo. Sim que voltaria a fazer de novo uma volta a ilha, mas desta vez somente embarcaria num veleiro que tenha um motor auxiliar. Valeu, Marcelo!