segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Outros trabalhos e a continuidade no Tiki 23

Antes de comentar sobre a retomada dos trabalhos de construção do Tiki 23, farei uma pequena sinopse do que foi este passado ano em termos de trabalho e o porque de não haver podido dar continuidade na construção do meu catamarã em 2016. Este blog apesar de ter sido criado exclusivamente para divulgação dos catamarãs polinésios do James Wharram, vai hoje tratar de trabalhos feitos em outros barcos durante o ano 2016. Resolvi fazer essa postagem porque recebi muitos e.mails de gente que acompanha o blog e que me perguntavam sobre o andamento da obra do tiki 23, e eu respondia que estava com outros trabalhos que eram em embarcações que não fazem parte da idéia original deste blog. Contudo, julguei que seria interessante comentar sobre esses outros trabalhos também.

Após a construção do Tiki 21 Mouna, fui trabalhar na Marina Mariana do amigo Rogério Coelho em Biguaçu. Lá havia muito trabalho para ser feito e acabei passando o restante do ano passado trabalhando com o Rogério. Em principio na reforma de dois veleiros em sua marina, um veleiro de 28 pés de compensado naval e um Cabo Horn 36 de fibra que o Rogério havia comprado para ele, ademais de outros trabalhos variados e de pintura em outros barcos que estiveram pela Marina Mariana. Farei um breve resumo do que foi feito em 2016 após a construção do Tiki 21 Mouna.

O meu trabalho no veleiro de '28 era de laminação e de pintura interna. Rogério havia recém reformado, ou melhor, ressucitado este barco, por estarem suas partes estruturais de proa, verdugo interno, espelho de popa e skeg muito deterioradas. Quando vi chegar este veleiro eu me encantei por sua forma de casco que lembrava de outros dois pequenos veleiros que fizeram muito sucesso na França nas décadas de 1970/'80 pelas suas excelentes qualidades nauticas, o pequeno e muito popular Muscadet de 20 pés, e o Cabernet de '23, ambos multichines e projetados por Philippe Harlé.

muscadet+drawing.jpg (649×461)


  

Abaixo o veleiro modelo Sauvignon '28 sendo colocado no galpão para a reforma.

Quando subi no barco para olha-lo mais atentamente. Já em casa, busquei pela internet pelo nome do projetista os trabalhos por ele realizado, não deu outra, a pesquisa por imagem confirmou o que eu havia imaginado, um barco de construção amadora projetado por Philippe Harlé. Muitos projetistas conhecidos mundialmente deixam uma característica marcante de seus trabalhos, como se fosse uma assinatura, Harlé é um deles.

Um bom projeto sempre dá lugar a um bom veleiro e este não foi exceção. O curioso é que este barco, construído em 1985, com o casco em compensado naval e convés em fibra de vidro, nunca teve uma laminação de fibra de vidro sobre o casco, comum nos barcos de compensado naval, e até necessário para sua proteção. Se identifica que o compensado comercializado naquele tempo era de muito boa qualidade.


Quilha sendo retirada, na verdade o patilhão do Sauvignon '28, pois havia uma bolina com desenho de meia lua em seu interior que foi substituída pelo Rogerio, por outra nova, devido a corrosão que apresentava a antiga.

O veleiro foi quase que refeito novamente. Abaixo o resultado final da reforma







Após o trabalho no veleiro multichine, foi a hora de trabalhar com o Rogério no seu flamante cabo Horn 36 Utopia.

    O famoso veleiro Utopia, com histórico de volta ao mundo, agora de propriedade do Rogério que o reformou com muitíssimo capricho, deixando-o "zerado" interna e externamente.




O Utopia ao lado do clássico Ayty que também pertenceu ao Rogério por muito tempo e vendido recentemente.  O trabalho, como no Sauvignon 28, foi hercúleo, se bem que o Utopia estava inteiro, mas o trabalho de lixação e pintura interna e externa foram muito grandes, mas o resultado também foi fenomenal. 



















Abaixo, mais fotos do lindo clássico Ayty



O Ayty, clássico de 33 pés foi vendido no inicio do ano passado indo para Imbituba de onde retornou depois de meses para receber novas gaiútas, braçolas e roda de leme totalmente novas e de um feitio artístico a altura que esse clássico merece. O barco foi puxado para seco. Refiz sua pintura de fundo, costado e convés, antes dele zarpar para Búzios onde foi participar de mais uma regata de clássicos que acontece regularmente naquele município carioca.













    Rogério em frente a obra de arte feita pelo mestre Paulo e por ele faz já muitos anos e que agora está nas mãos do capitão da Marinha Bernardo T. Martins.

    Ayty rumo a Búzios (foto de Bernardo T. Martins)


Outros trabalhos surgiram na sequencia na marina Mariana, em Biguaçu, conhecida como a marina do Rogério. No final do ano passado a prefeitura do município de Biguaçu adquiriu uma draga para deixar o canal de entrada para o rio Biguaçu com acesso irrestrito, que até então havia muita dificuldade para demandar essa barra sobretudo para veleiros que tem mais calado. Sendo assim, imagino que o interesse de proprietários de embarcações aumente muito por ser o rio Biguaçu um excelente abrigo para ventos de todos os quadrantes e contar com infraestrutura náutica bastante desenvolvida.



A retomada da obra do Tiki 23

O casco de BE do Tiki  faz aproximadamente dois que ficou pronto assim como de duas de suas três travessas de união entre os cascos. Quando comecei a fazer o casco de BB surgiu uma encomenda de um Tiki 21. Para poder livrar o espaço para sua construção tive que parar com a obra do 23 que estava com o casco emborcado e com a massa de acabamento por lixar. Terminei a lixação e dei uma demão de primer epoxy, assim, ele foi para fora, ficando emborcado ao lado do casco gêmeo.



No inicio deste ano retomei os trabalhos com o Tiki 23 depois de quase dois anos com ele parado. Quando fui examinar o casco para iniciar os trabalhos eu tive uma desagradável surpresa, notei que as anteparas e uma pequena parte do casco na proa sofreram infiltrações. Como foi possível isso?
Primeiramente por uma negligência minha ao não selar o casco completamente. Explico, o interior estava todo impregnado de epóxi. As anteparas estavam também impregnadas até a altura do verdugo. A parte das anteparas que compõe a cabine  e as bordas do compensado do casco na altura do verdugo onde há o corte de fábrica também não foram impregnadas, pois pensei que com o casco virado de boca para baixo o verdugo externo cria uma saliência que conduz a água para fora, a parte de baixo do verdugo ainda fazia um ângulo que ao parecer impossibilitava que a agua entrasse em contato com aquele compensado que não foi impregnado. Engano meu, e ademais, eu folguei em cima dessa possibilidade e não inspecionei o casco com a frequência requerida pois estava envolvido em outros trabalhos que me demandavam muito tempo, energia e disposição. Resultado, o compensado absorveu água por capilaridade por muito tempo. Não havendo como secar o miolo do compensado, pois a cola fenólica impedia a umidade de vir para a superfície para sua evaporação nos dias quentes e de sol, ficando apenas as pequenas superfícies de corte para sua evaporação, o que era insuficiente. Resumo da ópera: tive trabalho em dobro para refazer as três anteparas da cabine e substituir dois pedaços de compensado na proa próximos ao verdugo que sofreram infiltrações e também se deterioraram.

Depois disso, segui com o trabalho de fazer os paineiros, que nos tikis eles tem também uma função estrutural, depois dei um primer e uma primeira demão de tinta no interior antes de começar a fechar o convés.








Fechamento do convés



Na sequência, foi a vez da cabine







Para depois começar a laminação do convés


















 Também já fiz os tacos de apoio das travessas e os fuzis de ancoragem dos estaiamentos para serem fixados ao casco.






Falta agora laminar a cabine para terminar o processo de laminação do casco de BB, e assim que o trabalho for se desenvolvendo irei dando sequencia nas postagens, aguardem...