sexta-feira, 11 de março de 2011

ONDA PELO TRAVÉS

As impactantes imagens que nos chegaram do terremoto, seguido de um tsunami que atingiram o Japão no dia de hoje, nos leva a pensar na insignificancia que representamos ante a furia da natureza.
A impressionante quantidade de embarcações que foram arrastadas pelas águas podem ser vistas numa variedade de imagens tomadas ao longo de vários pontos onde a massa de água invadiu a terra, levando consigo embarcações de vários tipos e tamanhos a lugares inusitados terra adentro.
Destas tantas imagens, de tsunamis nos últimos anos, uma me chamou a atenção em especial. Ainda que no título apareça como sendo desta última ocorrencia no Japão, me parece que imagem foi tomada na Tailândia, por ocasião do maremoto de 2004. Nao quero em absoluto dizer que tais embarcaçoes são a prova de maremotos, o que seria um total e completo absurdo. Nada mais, a imagem mostra de forma gráfica e ilustrativa o comportamento de um catamaram polinésio, possivelmente um Tiki 30 ao receber o impacto de uma onda rompente de aproximadamente um metro e meio pelo través:  http://www.youtube.com/watch?v=44Jt2YS1INg&feature=related

quinta-feira, 3 de março de 2011

O COMPENSADO NAVAL

Ouve-se com muita freqüência de “entendidos” em construção naval que o compensado de cedro não tem substituto na construção de um barco pelo sistema WEST (Wood Epoxy Saturation Technics). Já faz um bom tempo que pesquizei e me informei sobre os compensados fenólicos de virola (Virola surinamensis) e de pinho para serem utilizado em construções navais com esta técnica. E ví barcos (bem construidos e mantidos) que navegam a anos com estes compensados sem sofrerem delaminações. A alguns anos, tive a felicidade de poder estar com o Cabinho e sua esposa Eilen na Marina da Glória a bordo de seu maravilhoso multichine 28 Fio. Por aquela ocasião eu ainda estava com o Alles Klar, um Newport 254 de fibra projetado por ele, e do qual eu carecia de mais informações técnicas. Ele me passou essas informações e a conversa depois derivou para  a construção amadora. Entrando no tema dos compensados navais, ele me comentou "que o uso do compensado naval de cedro puro não se faz mais necessário em vista do avanço tecnológico das resinas epóxy".

Antes da resina epóxy muitos barcos de compensado eram laminados com resina poliéster, o que provou com o passar do tempo não ser adequada para este menester.
Em minhas pesquisas encontrei num fórum sobre construção amadora o seguinte:
 ....Segundo o eng. Jorge Nasseh no "Manual de Construção de Barcos", página 89:
"... As resinas poliéster não têm propriedades de adesão suficientes para laminação em madeira. É muito comum vermos algumas pessoas revestirem seus velhos barcos de madeira com fibra de vidro impregnada com resina poliéster e, mais tarde, arrepender-se, pois a adesão de tal produto à maioria das madeiras não é boa. ..." .Esta discução pode ser encontrada no link: 
http://nautica.com.br/forum/viewtopic.php?f=2&t=2450&start=105

Em outro Fórum de discussões. Luis Gouveia da Yacht Design diz o seguinte:
"As propriedades estruturais dos compensados navais se equivalem e não tem problema você substituir o de cedro pelo de virola. Uma observação importante é que o de virola é mais sujeito a ser atacado por cupim e outras pragas do que o cedro e é importante que você tenha mais cuidado na escolha das chapas individualmente e na estocagem. Depois de impregando com epóxi é difícil que algum bicho entre no compensado mas se ele já estiver lá dentro ele vai achar um meio para abrir um furo para respirar". O link é  http://groups.yahoo.com/group/yachtdesign/message/9943

James Wharram recomenda o uso de compensados feitos de madeiras de renovação rápida para a construção de seus catamarans. De fato pode-se ver pela internet barcos Wharran disign que foram construidos com compensado de pinho renovavel.  . Claro que ao comprar o compensado ou a madeira de reflorestamento, deve-se ter o trabalho de ir a madeireira ou depósito e escolher as melhores peças. No caso do mastro escolher as táboas sem nó e com as fibras o mais longas possível e no caso do compensado, escolher entre os de qualidade superior  os melhores.

Na foto abaixo,  o mastro de um tiki 26 sendo construido com pinho renovável



Deve-se portanto  ter a consciência de optar pela utilização de madeiras processadas renováveis e se possível,  que tenham a certificação FSC.
"A certificação florestal deve garantir que a madeira utilizada em determinado produto é oriunda de um processo produtivo manejado de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável, e no cumprimento de todas as leis vigentes". Texto extraído do  link http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/certificacao_florestal/

Aqui no Brasil ví umas amostras de pinus Taeda tratado. A resalva a ser considerada para as madeiras pré-tratadas contra insetos xilófagos é a da toxidade quando elas forem trabalhadas (cortadas e lixadas). Penso que se alquém quiser tratar a madeira seria melhor que o fizesse depois de montar o barco, antes de pintá-lo ou impregná-lo com epoxi. Tenho a dúvida de que depois do compensado receber uma demão de Jimo cupim ou similar, se o epóxi impregnará da mesma forma que antes.

Estes argumentos, pesquisados em fontes fidedignas são mais confiáveis que os “achismos” de pessoas que não estão pelo labor de aceitar e mudar conceitos que se tornaram ultrapassados, Portanto, já nao se pode justificar o altíssimo custo final de um casco como sendo necessários para que os mesmos sejam melhores que outros construidos com compensados fenólicos de outras madeiras mais baratas, renováveis e ecologicamente mais corretas.
A atençao que se deve ter aos compensados fenólicos de virola ou de pinho, é que sejam minuciosamente escolhidos, observando cada uma das quatro faces de sua espessura para detectar possíveis fissuras em seu miolo.


Falhas no laminado interior .  foto do blog caiaquedemadeira.blogspot.com/

falha no laminado externo (foto do blog caiaquedemadeira.blogspot.com/ )

Uma maneira muito fácil de detectar falhas no laminado interior em compensados de até 6mm com apenas uma lâmina de recheio entre as externas, é observar a chapa à contraluz (do sol ou melhor, de um potente refletor). Se houver fissuras internas elas se denunciam, pois se mostrarão mais claras. Já as chapas confeccionadas com 4 laminas (2 interiores) já não é possível, contudo, por ser de melhor qualidade estrutural, e pelo fato do miolo interior contar com 2 laminados com as fibras contrapostas, uma falha nela desde que pequena, não compromete quase nada. Nos compensados de apenas um miolo mais grosso, se a falha for detectada depois de cortada uma peça, ela poderá ser preenchida com epóxy de baixa densidade (mais fluido) aplicado com uma seringa.
Quanto à qualidade da cola, tenho pedaços de chapas sem qualquer proteção que ficaram expostas a intempérie por meses e que não delaminaram. A virola é muito suscetível ao bolor se estiver armazenada num local úmido. Se este bolor se fizer presente, basta apenas uma lixada com lixa fina para devolver a madeira a sua coloração original.
A eliminação de cupins em embarcações feitas com chapas de compensado de até 10mm pode ser feita de forma eficiente aplicando calor com soprador de ar quente. Não é preciso de um calor que venha comprometer a pintura ao aquecer uma chapa de 6mm para que o cupim ou qualquer outro inseto morra em seu interior. Já fiz a experiência e obtive sucesso, evitando ter que injetar veneno com seringa, o que em muitos casos, fica até impossível em alguns pontos da embarcaçao por falta de acesso. Ademais, deve-se considerar a toxidade inerente a estes produtos, sobretudo quando a sua aplicação se faz no interior de cabines. Ainda assim, se tiver dúvidas quanto a possível infestação de cupim na origem, passar o soprador de calor depois das peças cortadas seria uma boa medida, antes de laminar ou saturar com epoxi.
Para quem quiser ver o processo de construção de compensados acessem o link para o Blog Portal da Madeira:
http://portaldamadeira.blogspot.com/2010/04/contraplacado-processo-de-fabrico.html

QUANTO AOS CUIDADOS COM AS OBRAS VIVAS

Cuidar das obras vivas de um barco não é sómente fazer sua manutençao periódica, mas fazer um uso cuidadoso, de forma que estas manutenções possam ser feitas em espaços de tempo mais longos. Obviamente, a chegada do momento para refazer a pintura de fundo será determinada pela frequencia e local de uso do barco, assim como da qualidade da tinta venenosa utilizada.
Para um barco que fica na água durante muitos meses, deve haver por parte do proprietário uma inspeçao da obra viva com bastante frequencia e muita atençao. Ao detectar um desgaste anômalo na pintura das obras vivas,  deve-se sanar o problema com a maior brevidade, prevenindo assim um potencial risco de infiltraçao que venha a deteriorar o casco, tendo depois que arcar com custos e tempos maiores do que seriam preciso para se fazer apenas um pequeno retoque na pintura ou na fibra.

O catamaram, por seu baixo calado, permite que se aproxime mais das praias, contudo, mesmo com uma proteção na parte inferior da quilha, seria melhor para  pintura e a fibra próximas a esta proteção, deixar uma lâmina de água entre a quilha e a areia, evitando assim que o fundo fique sendo"lixado". Deixando os encalhes para quando realmente se fizerem necessários e em águas tranquilas, para que o casco não se movimente sobre o fundo, se estará aumentando de maneira significativa o tempo para se fazer a substituição da proteção inferior da quilha, mas principalmente, evitando que a pintura e a fibra ao longo da junção desta proteçao com o casco se desgaste prematuramente, evitando uma possível infiltraçao entre a pintura e a fibra, ou no caso de desgastes mais severos, entre a fibra e o compensado.

Embora os cascos de composite de fibra/epóxi/compensado, requeiram um maior cuidado, os cascos somente de fibra também estão sujeitos a absorsão de água por capilaridade pela fibra e a consequente osmose e/ou delaminação.

Vale lembrar que os barcos feitos de composite com compensado naval, são laminados com resina  epóxi que tem uma qualidade e propriedades mecânicas muitíssimo superior às resinas poliester utilizadas na laminação da quase totalidade dos barcos feitos sómente de fibra de vidro, ademais de que o reparo no composite de compensado é mais fácil  que em cascos sómente de fibra.

Na prática, tomando os cuidados descritos acima, para catamarans de até 26/28 pés a diferença no embarque ou desembarque da tripulaçao seria apenas entre deixar de molhar apenas as canelas, para molhar os joelhos, ou seja, quase nada.