sábado, 31 de julho de 2010

Construindo uma Carreta

As dificuldades em manter a carreta de encalhe de meu veleiro monocasco por falta de lugar para deixa-la, fez com que eu tivesse que vende-la. Criou-se assim outra dificuldade ainda maior para tirar o barco para fora da agua e fazer sua manutenção periódica, pois teria que "garimpar" uma carreta para isto. Ademais do incomodo que me causava a idéia da impossibilidade de "puxar" o barco em carater de urgência por causa de alguma possível avaria. É bom ressaltar que se tratasse de um catamaram Wharram do mesmo comprimento do veleiro em questão, estas dificuldades simplesmente não existiriam.

Por ocasião da venda do veleiro, negociei com o comprador a construção de uma nova carreta para que ele pudesse transportar o barco por caminhão até o porto de destino e deixar o barco em seco quando fora de uso.

Uma vez escolhida a madeira e estabelecidas as dimensões, comecei a construção em minha garagem.



O angelim pedra tem excelente caracteristica para a construção de estruturas de grande porte, ademais de ser uma madeira muito gratificante de se trabalhar, inclusive pelo seu cheiro agradavel.

 

Cortar e montar uma carreta de encalhe é relativamente simples, mas não isenta de muito trabalho, sobretudo quando a obra começa a ganhar tamanho e consequentemente peso.



O riscado e a precisão dos cortes tem que ser muito bem executados ...







...para que os encaixes fiquem firmes quando receberem a pressão das porcas
 






 Comprados numa loja, as ferragens para o eixo e sistema de direção foram cortadas e soldadas em casa.
As rodas e pneus tiveram que ser garimpadas nos desmanches.

Uma vez que toda a estrutura estava pronta ela recebeu duas mãos de terebentina para proteger a madeira da humidade e ao mesmo tempo ressaltar sua beleza. Porém, o mais importante:  poder ver a madeira e  detectar  no futuro possíveis pontos de deterioro, a tempo de serem sanados.



A fixação dos eixos à carreta é mediante grampos em forma de "U" feitos a patir de uma barra roscada de 3/4' 



O acionamento da barra de direção é feito por meio de uma alavanca acionada manualmente, que é o mais indicado para manobrar a carreta em patios congestionados.


As guias para a quilha e os reforços laterais externos foram feitos de perfil metalico (cantoneira) para que ficassem leves e fortes, facilitando seu manuseio pois eles serão retirados para se fazer a manutenção no fundo do barco e postos novamente em seus lugares quando a embarcação for transportada para dentro ou para fora da água.

 

A carreta está pronta para ser levada a Marina Porto Biguaçu


A largura dos eixos foram em função da largura da plataforma, deixando a maior area de apoio possível. Para o transporte com o veleiro encima da carreta as rodas são retiradas e os eixos apoiados em tacos de madeira para dar mais estabilidade e baixar a altura de todo o conjunto.


A carreta já está na marina pronta para receber o veleiro. Mas o trabalho ainda não está terminado. Falta uma parte muito importante e de delicada execução que é a confecção do berço no formato do casco. Como não havia nenhum veleiro do mesmo modelo em Florianópolis, não foi possível obter um molde do fundo do casco para cortar o berço de apoio. O berço provisório é o que se ve na foto e a prancha de madeira (que está na apoiada deitada na parte inferior) será cortada com o veleiro encima da carreta.


Como também havia duvidas com relação ao calado real do veleiro, as colunas verticais foram cortadas com 30 cm a mais do calado de projeto que era de 1,40m. Uma vez com o veleiro na carreta foi constatado um calado real de 1,55m. O principal objetivo é  baixar a altura para ganhar em lâmina de água para favorecer a posta e retirada do barco, ademais de já deixar apoiada a quilha na parte inferior da carreta, aliviando a pressão do peso nos pontos de contato com o casco.


A proxima etapa não foi possivel documentar fotograficamente. Ela exigiu muita atenção no trabalho pois ele seria feito com o barco suspenso por macaco e calços e se trabalhando por baixo dele. Primeiramente foi  levantada e calçada a proa para em seguida cortar os 15 cm de excedente em altura das vigas verticais.  Posteriormente foi assentada a prancha de angelim e feita a marcação e desenho do formato do fundo no ponto de apoio do casco. Em seguida  foi cortada a prancha e assentada uma borracha. Tirando-se o calço e baixando com o macaco a proa ficou em seu lugar de apoio definitivo na carreta. A seguinte tarefa foi fazer o mesmo com a popa.

Nesta foto da para ver o resultado de como ficou o apoio no formato do fundo e no canto inferior direito as duas pontas de 15cm das vigas verticais que foram aproveitadas para servir de calço de apoio do macaco para levantar novamente a proa para pintar o fundo no ponto de contato com a carreta


Aqui o veleiro Alles Klar com o fundo pintado, faltando apenas a reparação na base do leme para entregá-lo a seu novo proprietário.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sonhar sem perder o Rumo

Observando os fóruns náuticos notei muita gente interessada em adquirir um veleiro e fazerem-se ao mar.

Percebi também que um número grande delas se preocupa mais com as comodidades do que com as qualidades náuticas e de segurança que a embarcação possa oferecer।

Um fórum náutico, ademais de tratar dos assuntos relativos à náutica, é um meio que muitas pessoas se utilizam para manifestar seus desejos de mais variadas índoles.

A respeito do dito acima, é recomendável que tenhamos a iniciativa de pesquisar, buscando informações em outras fontes, como livros, revistas, etc. antes de formular uma pergunta num forum.

Existem freqüentadores de fóruns náuticos que por falta de experiência na área, fundamentam seus anseios de serem proprietários de um veleiro se espelhando, por falta de referencias, em outros freqüentadores mais “expertos”. Muitos deles apenas com conhecimentos teóricos baseados em pesquisas na própria internet. Outros tomam para si o resultado dessas pesquisas, divulgam-a no fórum de maneira a fazer entender aos incautos o profundo conhecimento que tem sobre o tema, que em alguns casos, acabou de pesquisar.

A manifestação do desejo de se fazer ao mar, deveria antes passar por uma profunda auto-análise na busca do porque desse desejo e, principalmente, o que se espera da sua relação com o mar.

O resultado desta auto análise permitirá um melhor conhecimento das nossas próprias necessidades e limitações, deixando-nos mais seguros daquilo que queremos.

Sem a premissa do conhecimento básico de nossas necessidades, favorece com que se façam perguntas mal formuladas, obtendo como respostas uma enxurrada de “sugestões” que estarão satisfazendo aos desejos e necessidades de outras pessoas, fazendo-nos confundir e conduzindo-nos ao caminho de consumos ilógicos e desnecessários. Inibindo-nos muitas vezes de tomar uma iniciativa muito importante para o regozijo de nosso estado anímico. Ou a possíveis atritos na convivência do lar causados pelo impulso de gastos.
Outro aspecto a ser levado em conta é que tanto uma pergunta mal formulada, a qual, na maioria das vezes provoca uma resposta incerta, ficarão postadas no fórum, fazendo com que outras pessoas absorvam informações tanto incertas como imprecisas.


Muita gente tem medo de enfrentar o mar pela realidade que este elemento evidencia com toda sua grandeza e onipresença, levando-os a refugiarem-se na divulgação de abstrações desnecessárias (e caras). Em muitos casos esta abstrações se tornam para outros um referencial inatingível, o que pode resultar em adiamentos da realização de seu sonho ou em casos mais severos, a frustração pela desistência do mesmo.

Sair para o mar é despojar-se, despreocupar-se, admirar sua grandeza, sentir-se em liberdade, esta tão desejada nesses tempos de escravidão a que nos submete o sistema em que vivemos.


O mar pode despertar muitos outros sentimentos, porém, qualquer que seja o caso, não se pode perder o foco de que a principal finalidade de fazer-se ao mar é viver o mar! A embarcação é importante sim, mas sempre será um meio e não o fim.

Uma vez imbuído desta consciência, veremos que para desfrutar do mar não é preciso de uma parafernália de aparelhos eletrônicos, nem tão pouco de forno de micro ondas, ar condicionado ou tv de plasma. Artilugios estes que estão mais indicados para quem está arraigado à terra firme, e que em um barco não o torna mais marinheiro ou mais seguro. Uma vez que tenhamos um barco marinheiro e seguro, o indispensável para cruzeiro é que ele nos dê a possibilidade de dormir com conforto, fazer uma comida quente e tenha um canto para abrigar-nos da intempérie.

Acima de tudo, para estar no mar o que menos necessitamos é estarmos vinculados ao uso de ferragens e aparelhos caros de aquisição e manutenção, e que não estão isentos de quebra ou mau funcionamento. Esta fonte de preocupação pode acarretar um desconforto emocional que nos tira o foco de atenção impedindo-nos de alcançar o estado de plenitude que o mar nos oferece... de graça!

                   MAIS TEM QUEM MENOS NECESSITA          

Deveríamos questionar o que a indústria, a mídia e por conseqüência as pessoas sintonizadas neste sistema propõe, que para navegar a vela nos dias de hoje, seja “imprescindível” o uso de aparelhos eletrônicos, utilizando-se do mar como estigma para o consumo de produtos caríssimos.

A maioria dos eletrônicos nos proporciona comodidade, porém, jamais poderá ser substituída pela nossa (sempre em moda) sensibilidade. Disposto neste termo, aprimorando nossa acuidade de sentido, vamos saber quando teremos que rizar as velas, sem necessariamente saber a quantos nós o vento está, assim como poderemos “sentir” que o barco está no ângulo ótimo de orça, ou sofre uma deriva a causa de uma corrente.

Admito que o eletrônico que melhor auxilia a navegação é o GPS, e o uso sempre que vou fazer uma travessia mais longa, porém, ao meu entender, ele jamais poderá substituir a bússola e a carta de papel, como muitos o fazem. É uma questão pessoal, pois o aparelho pode ter uma pane, e aí? Ademais, por mais que digam que é bobagem, tenho em mente que sempre estaremos correndo o risco de sermos enganados “sem prévio aviso” (logicamente) por um sistema cujos dirigentes deliberadamente podem nos induzir ao erro por questões estratégicas, para a qual o mesmo sistema foi criado.

Fazer uma navegação precisa por métodos tradicionais nos traz muita satisfação também, e para isto existe uma técnica simples e secular, e ferramentas não muito caras. O domínio desta técnica nos proporciona ademais, uma auto-estima verdadeira e sem “muletas”.